Direção de fotografia: entenda como é avaliado no Oscar

Você já ouviu falar que algo é cinematográfico? Uma perseguição policial, um cenário de viagem, algum resgate do corpo de bombeiros. Esse termo traduz a ideia de que aquilo tem aspectos visuais dignos de Cinema, como se fosse gravado em Hollywood. E, em termos técnicos, a “cinematografia” é justamente a direção de fotografia.

Essa categoria do Oscar é tão importante ao ponto de ser utilizada como um resumo de tudo o que é Cinema, mais até do que a direção-geral, o roteiro ou as atuações. Afinal, ela orienta o olhar do espectador pela narrativa. Basicamente, trata-se da forma como as imagens são captadas para contar histórias.

O propósito da fotografia é justamente dar vida às definições do roteiro, fazendo com que o texto saia do papel para a tela com a estética imaginada pelos idealizadores do filme. Isso inclui iluminação, cores, cenários, enquadramentos, texturas, movimentos de câmera e até a escolha das lentes.

Continue a leitura e confira um guia completo sobre a cinematografia!

O que é a direção de fotografia em um filme?

No Brasil, é mais comum utilizarmos “direção de fotografia” mesmo. Porém, em inglês, essa categoria recebe o nome de “Cinematography” — inclusive, é assim que ela aparece nas indicações oficiais da Academia do Oscar, o mais relevante prêmio de Cinema do mundo. Então, é devido às atribuições da fotografia que um filme se torna “cinematográfico”.

Mas o que é exatamente a direção de fotografia no Cinema? Como dito, trata-se da decisão por todos os elementos visuais que compõem a cena da câmera. Ela funciona ao lado da Direção de Arte, que escolhe locações, ambientação histórica, cenários, figurinos e outros elementos para a imersão do telespectador em uma atmosfera específica.

Porém, o fotógrafo de cinema é focado em como esses aspectos de Arte serão traduzidos para o olhar do espectador por meio das lentes. É ele quem faz todas as escolhas criativas relacionadas à iluminação, à composição do quadro e aos movimentos das câmeras.

Então, fazem parte da direção de fotografia decisões como: o filme será mais granulado ou mais nítido? Mais obscuro ou repleto de cores exuberantes? Cheio de contraste ou com visual mais sutil? Com enquadramentos abertos ou mais fechados nos atores? As câmeras ficarão mais paradas e contemplativas ou estarão em constante movimento?

Os objetivos da direção de fotografia

Todas essas questões técnicas atendem a dois principais objetivos: realçar um estilo e causar certas sensações. O estilo se refere às características que diferenciam o diretor. É comum o fotógrafo de cinema firmar uma longa parceria com algum diretor-geral para sempre traduzir a personalidade de seus filmes.

É o caso, por exemplo, do polonês Janusz Kaminski, um dos grandes nomes da fotografia de Cinema que trabalhou em todos os filmes de Steven Spielberg desde “A lista de Schindler”. Outra parceria famosa é a do fotógrafo Robert Burks com Alfred Hitchcock, da qual nasceram os maiores sucessos do diretor, como “Janela Indiscreta” e “Um Corpo Que Cai”.

Já em relação às sensações, a capacidade de despertar certas respostas emocionais nos espectadores a partir da técnica é uma das magias do audiovisual. A forma como a câmera é dirigida por Burks no já citado “Um Corpo Que Cai” consegue provocar a sensação de vertigem por meio do zoom e do deslocamento das lentes.

Em “1917”, as filmagens do fotógrafo de cinema Roger Deakins contêm escolhas de posicionamento e iluminação que foram projetadas para dar a sensação de primeira pessoa no campo de batalha, como se estivéssemos lá. Para aumentar ainda mais esse sentimento realista, são utilizados takes únicos de plano-sequência.

Essa técnica de fotografia de cinema, que consiste em fazer uma filmagem longa, aparentemente sem cortes, também é utilizada pelo fotógrafo Emmanuel Lubezki em “O Regresso”, de Alejandro Iñarritu. O fotógrafo já levou 3 estatuetas consecutivas para casa.

Quais as atribuições de um diretor de fotografia?

Se você quer saber com mais detalhes sobre o que faz a direção de fotografia, anote aí: o diretor é o responsável por supervisionar toda a equipe que trabalha com filmagens e luzes. Em filmes de baixo orçamento, às vezes, é ele mesmo quem opera as câmeras.

Assim como em um ensaio fotográfico, o profissional por trás das lentes precisa pensar em diversos aspectos de iluminação, efeitos, enquadramentos e ângulo, em busca de obter o resultado desejado. A diferença é que, no Cinema, isso é feito com filmadoras, em vez de câmeras estáticas.

Veja só algumas das atribuições que entram nessa função:

  • dissecar o roteiro e a proposta da narrativa;
  • pesquisar técnicas cinematográficas relacionadas à narrativa e as respostas emocionais pretendidas junto ao público;
  • elaborar listas de tomadas e diagramas de iluminação;
  • gerenciar toda a equipe de filmagem e luz;
  • escolher lentes e outros equipamentos de filmagem;
  • tomar decisões por movimentos de câmera, efeitos digitais, proporções, planos, taxas de quadros e contrastes;
  • contribuir com as decisões sobre a paleta de cores junto ao diretor-geral e ao colorista.

Quais os critérios de análise da direção de fotografia no Oscar?

`Basicamente, os critérios de avaliação do Oscar são todos esses que citamos. Estamos falando dos principais elementos de cinematografia, que provavelmente você veria na grade de um curso de direção de fotografia online. Veja um pouco mais sobre eles:

  • plano de câmera — trata-se da distância entre a lente em uso e o foco, formando o enquadramento da cena, que pode ser mais aberto e descritivo (very long shot) ou mais fechado e dramático, como o americano (mid shot) e o primeiro plano (close-up);
  • posicionamento da câmera — trata-se do local em que são colocadas as lentes, o ângulo da câmera;
  • movimento da câmera — pode ser mais estático ou com movimento ao longo da cena, aproximando o público dos personagens;
  • composição da tomada — trata-se de como os elementos da cena são organizados no quadro da câmera, o arranjo dos atores dentro do enquadramento;
  • tamanho do tiro — é a escolha pela duração do take e a existência ou não de zoom;
  • foco e profundidade — é a escolha por quais elementos serão enfatizados em cada cena;
  • iluminação — essa é a parte da cinematografia responsável pelo equilíbrio entre luz e sombra e os efeitos decorrentes disso.

Uma curiosidade é que, de 1940 a 1967 (com exceção de 1958), a escolha de melhor direção de fotografia era separada entre obras coloridas e em preto e branco. Atualmente, independentemente dessa escolha, todos os filmes concorrem na mesma categoria.

Quais são os candidatos à cinematografia no Oscar 2023?

Em 2023, os filmes indicados à melhor direção de fotografia são:

  • Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (Darius Khondji);
  • Elvis (Mandy Walker);
  • Império da Luz (Roger Deakins);
  • Nada de Novo no Front (James Friend);
  • Tár (Florian Hoffmeister).

Veja um pouco sobre cada uma dessas obras e seus principais elementos de fotografia, com alguns trechos das entrevistas dos diretores para a IBC (em tradução livre).

Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (Darius Khondji)

Em “Bardo”, o diretor Khondji escolhe uma câmera de movimentos fluidos, que parece flutuar entre as cenas sem impedimentos. O filme é uma narrativa que passa por crises existenciais e memórias pessoais do protagonista, repletas de elementos da história mexicana.

O resultado causa efeitos de um realismo intercalado com imaginação, em uma atmosfera intimista. De acordo com o diretor: “Queríamos que o filme parecesse uma fita da vida… Estar em um movimento perpétuo, como a vida está em um movimento perpétuo”.

Elvis (Mandy Walker)

A única mulher a fazer parte desta lista, e uma das poucas a serem indicadas na história do Oscar, é Mandy Walker, que tem a chance de marcar a história da premiação com sua direção em “Elvis”. O filme conta a história do icônico Rei do Rock desde sua infância no Mississippi, até o auge em Las Vegas.

Para representar a efervescência dos anos 50 e transitar ao longo de 5 décadas, a diretora trabalhou com câmeras e luzes que recriam a atmosfera do período.

Império da Luz (Roger Deakins)

Esse é mais um filme com a assinatura de Deakins, do qual já falamos sobre “1917” e que também coleciona prêmios por “Blade Runner 2049”. Em “Império da Luz”, ele retoma a parceria com o diretor Sam Mendes para dar vida à história de amor entre funcionários de um cinema inglês da década de 1980.

Nessa obra, a fotografia é estática e de movimentos sutis, como se o espectador estivesse observando discretamente os personagens, cujas cenas se passam em cenários simples e pouco chamativos.

Segundo Deakins: “Eu não sei se foi uma reação a ‘1917’, um filme em que a câmera não para de se mover, mas nós dois percebemos que o que parecia certo para esse filme era mais estilizado, mais quieto – muito mais estático para permitir às pessoas o espaço em um quadro.”

Nada de Novo no Front (James Friend)

“Nada de Novo no Front” já é um clássico, filmado duas vezes antes, em 1979 e em 1930. Trata-se de um brutal relato das trincheiras da guerra, com todo o sangue, a sujeira e o terror da guerra. Para conseguir os efeitos necessários para essa ambientação, a equipe usou muita sombra na fotografia e tomadas que seguem os atores por longas distâncias.

O desconforto do contexto é reforçado com enquadramentos mais fechados, focados nas expressões de medo dos soldados. As câmeras se movimentam rapidamente, contribuindo com o objetivo do filme de retratar a guerra sem qualquer glamour ou jornadas heroicas, mas apenas pelo caos do campo de batalha.

Tár (Florian Hoffmeister)

Em “Tár”, filme dedicado a contar a história fictícia da maestrina musical Lydia Tár, as decisões de câmera ajudam a explorar todas as camadas do autocontrole e da autodestruição da protagonista. Para isso, o fotógrafo Hoffmeister opta por circundar a atriz, posicionando as lentes para uma observação que vai se tornando cada vez mais íntima, à medida que conhecemos mais a personagem.

Segundo o diretor: “É uma forma de posicionamento em que a câmera apenas observa. E quanto mais tempo eu observar, mais íntimo parecerá”. Quanto à iluminação, assim como na técnica das imagens HDR, há um jogo de contraste e luz que molda cada quadro.

Os últimos premiados

Veja a lista dos vencedores das últimas 20 edições do Oscar:

  • 2022 — Greig Fraser (Duna);
  • 2021 — Erik Messerschmidt (Mank);
  • 2020 — Roger Deakins (1917);
  • 2019 — Alfonso Cuarón (Roma);
  • 2018 — Roger Deakins (Blade Runner 2049);
  • 2017 — Linus Sandgren (La La Land);
  • 2016 — Emmanuel Lubezki (O Regresso);
  • 2015 — Emmanuel Lubezki (Birdman);
  • 2014 — Emmanuel Lubezki (Gravidade);
  • 2013 — Claudio Miranda (As Aventuras de Pi);
  • 2012 — Robert Richardson (A Invenção de Hugo Cabret);
  • 2011 — Wally Pfister (A Origem);
  • 2010 — Mauro Fiore (Avatar);
  • 2009 — Anthony Dod Mantle (Quem Quer Ser um Milionário?);
  • 2008 — Robert Elswit (Sangue Negro);
  • 2007 — Guillermo Navarro (O Labirinto do Fauno);
  • 2006 — Dion Beebe (Memórias de uma Gueixa);
  • 2005 — Robert Richardson (O Aviador);
  • 2004 — Russell Boyd (Mestre dos Mares);
  • 2003 — Conrad Hall (Estrada para Perdição);
  • 2002 — Andrew Lesnie (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel);

Como vimos, a direção de fotografia é uma das funções mais importantes no Cinema. É ela uma das grandes responsáveis por toda a magia do audiovisual, e tudo tem a ver com o domínio de toda a potencialidade criativa das câmeras.

Gostou do conteúdo? Então, continue por aqui e leia também sobre a tecnologia de imagem do filme Avatar!

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